domingo, 31 de julho de 2011

Uma Margueritte só pra mim!

Boa noite!

Hoje vi um filme maravilhoso, daqueles que entrarão para minha lista! "Minhas tardes com Margueritte", de Jean Becke, é um dos mais sublimes e delicados que vi. Consegue mostrar a bela relação que podemos ter com pessoas de uma forma natural, como se fosse uma necessidade até. Sem discurso piegas ou comum, a troca entre um ignorante e uma senhorinha mais que sábia é de fazer chorar.

Todo mundo deveria ter uma Margheritte na vida! Uma senhora que ensine a ler, a pensar e perdoar. Um olhar cansado e profundo, a nos enxergar a alma. Uma mão que afague um rosto triste, amargurado e só.

Hoje o mundo está tão indecente, violento e egoísta; achar velhinhas sentadas em bancos de praça parece uma ilusão, ficcção de cinema.

Sou uma mulher de muita sorte. Tive uma Margueritte em minha vida! Minha vó Leonor. Ela me ensinou tanto que salvou minha vida muitas vezes. As palavras estão marcadas em meu coração e trouxeram-me à tona de vales de lama e lágrimas.

Vó Leonor sofreu em guerras, na perda precoce do amor de sua vida, para criar cinco filhos; mulher forte, guerreira e cheia de fé. Sabia rir de si mesma e valorizava a família, acima de tudo.

Saudade da senhora, vó. Vou até tua terra em breve e espero ver com teus olhos o lugar de onde fugiu, com fome e frio.

Quero estar perto da senhora, sempre!

Um grande beijo da neta que sempre irá lhe amar! Minha Margueritte de Praga.

Simone


sábado, 23 de julho de 2011

“Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto...” – Sergio Ricardo/Luli

Boa noite!


“... Se você disser

Tudo o que quiser

Então eu escuto

Fala

lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá

Fala

Se eu não entender

Não vou responder

Então eu escuto

Eu só vou falar

Na hora de falar

Então eu escuto

Fala

lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá

Fala”

Fico dias sem postar nada aqui porque não tenho nada pra dizer, então fico escutando... Escuto o mundo, a multidão em passeata, as conversas de elevador, das mesas ao lado da minha, em restaurantes. Ouço a vizinhança, meus pensamentos. E tenho de torná-los palavras?  Não, sim, talvez. As vezes não consigo parar de escrever, nem de pensar.

De onde vem essa necessidade de falar? Comunicar dizendo o que pensa? Desde Lascaux, rabiscando feitos e momentos, protagonizando nossa história e após milhões de anos, chegar onde estou, digitando em um pequeno aparelho sem fio, conectada a zilhões de informações e postando em um espaço só meu, falando, falando.

Qual a motivação de gente comum como eu de se expor? Ter necessidade de falar e publicar, como uma pseudo-jornalista ou escritora? Coisas do ego? Frustrações profissionais? Preguiça de contar minha vida para quem não me conhece? Talvez seja tudo isso. Ou apenas vontade de registrar, marcar uma parede virtual com meus rabiscos.

É terapia das boas, Freudiana.

Um abraço,

Simone











































sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fazes-me falta - Inez Pedroza

Boa noite para você que não está há 22 anos.

Pela segunda vez em muito tempo não estou onde deveria estar, onde queria estar. Não posso levar as margaridas, nem chorar meu minuto, nem conversar sobre as coisas que pautam meus dias sem ti.

Perdoe-me por passar pelo portão trancado, por não saber pular tão alto. Só estou perto daquilo que nunca findou e sempre será.

Há coincidências, e sei que não são. Leio um livro da escritora portuguesa Inês Pedroza, "Fazes-me Falta", que, no relato de duas pessoas, uma que está e outra que foi tralhada pela morte ainda jovem, como tu fostes, tece as palavras que não foram ditas. O diálogo de um entrelaçado no outro, como se estivessem juntos.

E sinto-me a terceira pessoa e tu a quarta, dialogando nossa saudade nesses 22 anos. Penso nas coisas que teríamos feito em 90, onde passaríamos a virada do milênio, nos filmes que sei que iríamos ver. Fazes-me falta. Muita falta.

Sinto saudade do sorriso que tomava-lhe a face e deixava teus olhos minúsculos, de jogar tênis em Santos, de eu perder sempre. As músicas que ouvíamos ainda estão gravadas, agora em cd, mp3, mp4, no YouTube. É louco pensar que tu irias ver muitas coisas mudarem no mundo e também muitas que não mudaram.

Há 22 anos, não havia acordado a essa hora. Não havia dormido no desespero de tentar entender o mundo sem ti. Chorava toda a água que existia em mim, molhava minha alma sem saber-me sem ti, batia os punhos no vento como se pudesse machucar o ar que não mais respiravas. Sem força, sem viço, emagrecida de luz, pobre de vida a perder o que era, o que ainda seria.

Perdoa-me por estar perto, tão perto que posso perturbar-te com minha tristeza, tirando-lhe a calma de onde estás. Por ter as margaridas nos meus olhos e não nas mãos, por chorar meu minuto caminhando pelo Largo da Carioca, por escrever ao invés de falar as coisas que pautam meus dias sem ti.

Fazes-me falta, muita falta quando quero rir de coisas bobas, quando quero viajar sem rumo, quando quero brincar no mar, jogar buraco e ganhar de vez em quando. E as crianças? Onde estarão as crianças que fizemos brincar? Devem estar trabalhando agora, engravatados, nos saltos a correrem pelas ruas de Sampa ou do mundo. Da caça ao tesouro não devem lembrar, não tiveram o cuidado de entender aqueles dias como a última oportunidade de conviverem uma pessoa das mais especiais que conheceriam.

E teus alunos? Que correram nas quadras das escolas, suando por tuas ordens e hoje suam debaixo de um sol mais perigoso. Hoje sabemos dos perigos dos raios na pele, do mal do cigarro, da necessidade de uma alimentação funcional. O que tu sabes que não sei? O que aprendeu que eu não? Onde vives, o que fazes, onde moras?

Te agradeço! Te reverencio e respeito em todos os minutos desses 22 anos. Nunca houve espaço para o esquecimento em nenhum dos meus dias sem ti. Fazes-me falta, sempre.

Que estejas bem, eu sei que está. Que fique bem sem minha presença em carne viva, pois eu também estarei.

Amo-te ainda, amarei sempre.

Um beijo. Um abraço no teu espírito que voa e só se aprisiona em meu coração.

Tua Sika.