domingo, 22 de abril de 2012

A porta pequena

Boa tarde!

Estas duas semanas foram pontuadas por falta de tempo. As vinte e quatro horas foram insuficientes, poucas. E meu sono reduzido ao mínimo.

Há tempos não faltava tempo! Não sorvia os minutos com sede desértica há anos. Daí lembrei : - Falta-me o tempo quando mais preciso dele. Falta-me o ar quando meu corpo exige mais fôlego.

Maravilha sentir novamente a vida a correr maratonas, suar em bicas e fazer o corpo cansar. Ficar adormecida, em berço esplêndido, nunca foi minha praia; mas o período de ostracismo emocional foi legal. Acumulei energia e força e simplesmente esperei o destino fazer sua parte.

Como foi que cheguei aqui? Quanto tempo precisei para sentir que não tenho mais tempo? Foi assim...

Mergulhei até os ouvidos apitarem e a pressão ser insuportável, tirei a máscara, tirei o tanque e virei peixe. Fui mais fundo e tornei-me coral, areia, tesouro perdido. Segui a correnteza, mudei de ideia e, contra a corrente, exercitei meus músculos e apetite pela novidade.

E se a novidade foi um livro comprado e deixado sem ler? Um livro importante, mas em língua estranha; conteúdo indecifrável na época. De páginas coladas, sem final, como uma saga em curso. Sim, deixei para ler só agora, depois de aprender a falar manso e olhar mais dentro que fora.

Com o tempo aprendi a ver o tempo em camadas, não em sequência, sobreposto, tal o solo. Uma camada sobre a outra: fogo, ar, água, terra. Terremotos, avalanches, maremotos, tempestades e incêndios. Lava e gelo, pó e fósseis.

Minha natureza humana submetida à natureza do outro se torna outra, transforma-se e surge dinâmica sendo a mesma, porém diferente. Uma matrioska, um puzzle, cubo mágico, ampulheta sem areia! Era eu, sou eu, serei eu e todos. Cada um sou eu. Nasci de dois, que de quatro nasceram, que de oito vieram e essa progressão aritmética/genética deixou meus olhos da cor que são, meus joelhos varos recurvados e meu sorriso fácil. Venho de longe, cheguei.

E vou. Para onde? Não posso ter certeza de nada: só sei que nada sei (de quem é essa frase?). Tenho uma estrada e nela pode acontecer nada, todas as coisas ou acabar numa encruzilhada e, mais uma vez, terei de escolher. Direita ou esquerda, voltar ou descer o barranco desembestada e estabacar no chão duro e impiedoso do erro.

O que é um erro se foi na tentativa de acerto? O caminho errado, se no mapa era o certo. Meu GPS não falhou e levou-me para dentro, para o centro, começo e fim no meio dos acontecimentos controláveis e incontroláveis. Fui e voltei, me perdi quando encontrei a entrada para mim. Uma porta tão pequena e eu enorme, feito Alice. Minha poção de encolher venho sorvendo para caber e entrar em mim.

Entrei e reconheço todos os cantos e objetos, afetos brilhantes e amarguras empoeiradas. Brinquedos intactos e outros quebrados de tanto brincar. As fotos amareladas, sépia, PB, coloridas e desconhecidas. Sou eu aqui. Estou dentro e não quero mais sair. Levei tanto tempo para encontrar-me e agora me nego a sair. Agora sim, estou livre para abrir minha porta pequena para os gigantes entrarem e aviso: não quebre os cristais, cuidado com quem sou. Sou anfitriã e hóspede de mim.

Um grande abraço de onde estou: perto de mim.

Simone.









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