terça-feira, 9 de outubro de 2012

O luto é escuro

A luz não se apagou quando a energia cessou e houve um breve momento de resistência, como se algo fosse eterno, julgava-se eterna. Uma vida relutante sem querer que a escuridão tomasse conta; agonizando oscilante, um pisca-pisca, um fio incandescente amarelo-laranja. Não por muito tempo, embora parecesse interminável. E o bojo transparente que a envolvia e era seu escudo, sua cerca eletrificada e campo de força, assistia impassível a luta sabendo o final. Não interferiu porque não podia; por ser apenas seu hospedeiro, seu ambiente seguro e onde a recebeu sem ao menos conhecer.


Apagou de vez. O escuro mais escuro, tão negro e retinto que não se imagina, instaurou-se implacável. Inundou e transbordou por onde podia, infiltrando-se nas frestas e cantos, desaparecendo tudo. Nada existia mesmo existindo. Tudo estava lá e não estava. O chão, a parede e o teto eram a mesma coisa: uma massa uniforme de um negrume tosco de enjoar. O que parecia já não era, nem sombra da sombra. Que sombra? Não há sombra sem luz, nem reflexo, nem cor. Treva pura pairando sem a menor culpa.

O tempo fica mais mole, a temperatura começa a cair e o ar fica esquisito. A cegueira temporária ensina a tatear no escuro, a depender de outros sentidos. No começo se esbarra, bate, tropeça e cai. Machuca-se muito e a dependência desespera. Primeiro vem a luta, o inconformismo, a dor e raiva. Gritos internos, xingamentos insanos e culpa por tudo. Os questionamentos beiram a insanidade, invenções e ilusões que surgem do medo e abandono. Solidão negra de matar. O luto é escuro.

Aos poucos se acostuma com aquilo, tal nascesse assim. Resigna-se. Fazer o caminho várias vezes, memorizar os obstáculos e conviver sem luz parece ser o melhor a fazer. É isso que se faz por não ter nada mais a fazer. Não se pode determinar a duração desse estado e mesmo depois de acabar ainda ficará na memória; então não passará nunca, mesmo tendo desaparecido. O tempo passa indefectível.

Passa o tempo, passa bem. Hoje já se pode enxergar os contornos, os volumes e o negro deu lugar ao cinza. Vida em negro e cinza, nada de branco e cores. Não há mais o embate, a preocupação, o cuidado. O ambiente não assusta mais de tão normal ser anormal. Os olhos já não buscam o que não existe no imaginário e a conformação enche os pulmões, alimenta a fome e sacia a sede.

E quando se pensa, há um minuto de morrer, um estranho encarregado entra e troca a lâmpada. A luz cega também, o que era pouco se excede e cega. Nada se vê no branco brilhante iluminado claro. Mas agora se sabe da mortalidade da luz. Um dia vai escurecer novamente e a experiência das trevas passadas servirá.

Saudade, muita saudade da minha luz.

Simone, com orgulho, Giudice!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O Jugo Leve - O Evangelho Segundo o Espiritismo


O jugo leve

1. Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (S. MATEUS, cap. XI, vv. 28 a 30.)

2. Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, ao contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhe mitiga o amargor. Foi isso que levou Jesus a dizer: "Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei."

Entretanto, faz depender de uma condição a sua assistência e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei por ele ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; mas, esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.

...

6. Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.

Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos fornece aos corpos o pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a minha preciosa semente. Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos suores e misérias formam o tesouro que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente. - O Espírito de Verdade. (Paris, 1861.)

Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são bem-amados meus. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana. Assim como o vento varre a poeira, que também o sopro dos Espíritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não raro, muito miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que as vossas. Estou convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres, no seio dAquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade. - O Espírito de Verdade. (Paris, 1861.)

domingo, 22 de abril de 2012

A porta pequena

Boa tarde!

Estas duas semanas foram pontuadas por falta de tempo. As vinte e quatro horas foram insuficientes, poucas. E meu sono reduzido ao mínimo.

Há tempos não faltava tempo! Não sorvia os minutos com sede desértica há anos. Daí lembrei : - Falta-me o tempo quando mais preciso dele. Falta-me o ar quando meu corpo exige mais fôlego.

Maravilha sentir novamente a vida a correr maratonas, suar em bicas e fazer o corpo cansar. Ficar adormecida, em berço esplêndido, nunca foi minha praia; mas o período de ostracismo emocional foi legal. Acumulei energia e força e simplesmente esperei o destino fazer sua parte.

Como foi que cheguei aqui? Quanto tempo precisei para sentir que não tenho mais tempo? Foi assim...

Mergulhei até os ouvidos apitarem e a pressão ser insuportável, tirei a máscara, tirei o tanque e virei peixe. Fui mais fundo e tornei-me coral, areia, tesouro perdido. Segui a correnteza, mudei de ideia e, contra a corrente, exercitei meus músculos e apetite pela novidade.

E se a novidade foi um livro comprado e deixado sem ler? Um livro importante, mas em língua estranha; conteúdo indecifrável na época. De páginas coladas, sem final, como uma saga em curso. Sim, deixei para ler só agora, depois de aprender a falar manso e olhar mais dentro que fora.

Com o tempo aprendi a ver o tempo em camadas, não em sequência, sobreposto, tal o solo. Uma camada sobre a outra: fogo, ar, água, terra. Terremotos, avalanches, maremotos, tempestades e incêndios. Lava e gelo, pó e fósseis.

Minha natureza humana submetida à natureza do outro se torna outra, transforma-se e surge dinâmica sendo a mesma, porém diferente. Uma matrioska, um puzzle, cubo mágico, ampulheta sem areia! Era eu, sou eu, serei eu e todos. Cada um sou eu. Nasci de dois, que de quatro nasceram, que de oito vieram e essa progressão aritmética/genética deixou meus olhos da cor que são, meus joelhos varos recurvados e meu sorriso fácil. Venho de longe, cheguei.

E vou. Para onde? Não posso ter certeza de nada: só sei que nada sei (de quem é essa frase?). Tenho uma estrada e nela pode acontecer nada, todas as coisas ou acabar numa encruzilhada e, mais uma vez, terei de escolher. Direita ou esquerda, voltar ou descer o barranco desembestada e estabacar no chão duro e impiedoso do erro.

O que é um erro se foi na tentativa de acerto? O caminho errado, se no mapa era o certo. Meu GPS não falhou e levou-me para dentro, para o centro, começo e fim no meio dos acontecimentos controláveis e incontroláveis. Fui e voltei, me perdi quando encontrei a entrada para mim. Uma porta tão pequena e eu enorme, feito Alice. Minha poção de encolher venho sorvendo para caber e entrar em mim.

Entrei e reconheço todos os cantos e objetos, afetos brilhantes e amarguras empoeiradas. Brinquedos intactos e outros quebrados de tanto brincar. As fotos amareladas, sépia, PB, coloridas e desconhecidas. Sou eu aqui. Estou dentro e não quero mais sair. Levei tanto tempo para encontrar-me e agora me nego a sair. Agora sim, estou livre para abrir minha porta pequena para os gigantes entrarem e aviso: não quebre os cristais, cuidado com quem sou. Sou anfitriã e hóspede de mim.

Um grande abraço de onde estou: perto de mim.

Simone.









segunda-feira, 9 de abril de 2012

Portal

Um dia eu corri, tanto que nem vi por onde passava e nem como cheguei aqui. Fugi covardemente do destino inacreditavelmente difícil, complicado e oposto do imaginado e sonhado.

Encontrei uma porta nos fundos do meu maior medo e saí de cena, como quem pega um desvio errado e tenta voltar ao caminho escrito nos sonhos e nos finais felizes de romances irreais.

Por dez anos acreditei ter sido prudente e sensata, ter feito uma escolha protegida, mas não encarei o espelho quando cheguei em casa. Sabia que veria uma mulher diferente daquela que sempre pensei ser. Fui egoísta, medrosa, fraca, preconceituosa e sem compaixão alguma.

Algumas vezes, o mesmo destino que me fez correr, atravessou meu caminho lembrando o quanto fui covarde. E o pior, ninguém me culpou. Não sei se existe algo tão cruel quanto a culpa solitária. Ser perdoada e ainda receber ajuda de quem menos esperei.

Essa sutileza da vida... Ela esfrega na cara da gente e não adianta adiar, correr ou fingir que não viu. Como aquela placa na estrada que perdi por estar em alta velocidade e distraída das coisas desimportantes, me levou à um país inexistente. Eu entendia uma língua que não falava e, sendo estrangeira, não pertencia ao lugar, exilada na ilusão de um dia ser cidadã.

É maravilhoso ter uma passagem de volta a um encontro que perdi. Ainda guardo a passagem na minha carteira e percebi que a data de volta sempre volta. Muda, dando a chance de ver um sol já nascido, um replay de algo que foi sem ser.

Eu disse: os portais sempre apareceram, sugerindo que o passado na verdade era futuro. Maktub! Estava escrito, predestinado, sina, destino, promessa. Desacreditei tantas vezes quantas foram necessárias, para finalmente descrer no acaso. Causei esse efeito onde a coincidência era fato e o acaso era o presente do meu futuro.

Agora vamos! É hoje! Amanhã e depois de um amanhã Não por ter de ser, mas por ser de ter.

Ter você finalmente totalmente em mim, na minha vida passada, presente e futura. Vamos ver o que o destino nos reserva. Eis a chance! Nossa chance.

Um beijo que sempre foi e será eterno.

Simone.

terça-feira, 13 de março de 2012

CAMPANHA DO ENXOVAL 2012 - VAMOS AJUDAR !!!!!

Queridos (as) amigos (as),

No ano passado adquirimos junto ao Rei das Fraldas (Rua Luis Gama nº 733 salas 1, 2, 3 e 4 - Cambuci – São Paulo – fone: Fone 3271.1738 - endereço eletrônico: comercialdebeche@uol.com.br) enxovais de bebê ao custo de R$ 72,92 cada e, neste ano, o mesmo enxovalzinho custa R$ 78,22 (diferença de apenas R$ 5,30).

Assim como no ano passado, minha amiga Rosana irá fazer a ponte para que o pagamento e os enxovais cheguem ao seu destino.

Finalmente, gostaria de saber quem poderá contribuir com essa campanha maravilhosa da nossa bondosa e doce amiga Cida, do Juninho e da tia Igorina.

Não vamos perder a oportunidade de ajudar um pouquinho a quem tanto necessita de nossa ajuda.

Segue abaixo a lista e o preço dos itens que compõe o enxoval:

• 2 macacões compridos: 3,99 + 3,99 = 7,98

• 1 Body manga longa: 3,90

• 1 toalha de banho: 4,50

• 1 cobertor: 4,75

• 1 manta: 9,90

• 1 conjunto de lã (casaquinho, touca e sapatinho): 5,99

• 1 pacote de babador (3 peças): 2,90

• 2 mijões: 1,90 + 1,90 = 3,80

• 2 mijões pagão: 4,15 + 4,15 = 8,30

• 1 mamadeira: 1,85

• 1 chocalho: 2,50

• 1 sabonete: 1,15

• 1 fita crepe: 1,50

• Pacote de meias 1,65

• 2 calças plásticas (lisa e estampada): 1,25 +1,50 = 2,75

• 2 pacotes de fralda tecido: 6,50 + 6,50 = 13,00

• 1 pacote de algodão: 1,80

TOTAL: R$ 78,22


Aguardo retorno ansiosamente!
Tenham uma ótima semana!
Obrigada e um forte abraço,

Simone.
 
E-mails de Confirmação de Doação para: simone.avocati@hotmail.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O que realmente importa. O que realmente importa?

Boas...

Há tempos que nada de importante vem, ao ponto de reflexão. Sim, tudo aqui reflete. Hoje veio.

Uma ruptura, com qualquer coisa, mexe com alguma coisa dentro, acima. Na alma. Deixar algo desaparecendo no horizonte ou tirado de nossas mãos por não pertencer mais, é , fato relevante. Sim, sempre é algo que supunhamos ser nosso.

Perder, perder, perder. Luz de vela, terminal, consumível, finita. Tudo finda, nada dura tanto que não possa ser esquecido. Eu serei: uma tia morta há um século, que mais nada significará. Não sou Garbo,  Mozart, Felini, Eco; não terei eco, assim como a maioria, a massa que passa, morre sem graça.

A única coisa minha, por direito, sou eu. E a você, a ti mesmo. E se for a Deus, sobra o livre arbítrio pra fazer o que bem entender com sua vida.

Tirar da vida, dos pensamentos, das paixões, da rotina, do hábito, da memória recente. E vira história; as vezes pra boi dormir. Outras viram livros, filmes, furo de reportagem. A maioria, vira nada.

Minha sombra, cada vez menor; perdoo-me por perder-me e curvar-me à ânsia de viver cada segundo como se fosse o único a sobrar de uma existência breve se comparada à etenidade prometida pela reencarnação. Meus defeitos de fabricação dos gens herdados e aqueles que agreguei pelo caminho e os que ainda vou adquirir não mais pesam tanto agora que descobri que tenho o direito de ser imperfeita.

O que perdi tá perdido. O que ainda vou peder já não importa; a vida anda torta, sem minha alter régua (não errei na ortografia) desejar a retidão esperada. Esperada por quem? Quem cobra, senão o espelho da sociedade que espera refletir sempre? Quer todos iguais em suas diferenças, tomar por baixo e equalizar a turba impotente a baixar os olhos, curvar a coluna e obedecer passivamente: vou comprar os produtos que devo, comportar-me e fingir felicidade.

Perdi a hora, fui embora.

Abraços,

Simone.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mudança. Mudei!

“Nada existe de permanente a não ser a mudança” Heráclito

Comecei a sentir os efeitos da decisão. Me dei conta das coisas que não posso mais fazer onde estou. Fui tomada por um apego. Não posso dizer, neste momento. Cada uma das perdas foi reconhecida em seu momento, quando acontecia, enquanto eu vivia. Posso dizer: naqueles momentos em que eu entendia o que iria perder, pesava minha decisão de ir. O melhor nesse processo, foi descobrir quanta coisa eu preciso para viver. Procurava meios de manter algumas, de viabilizar outras no caminho. Mas percebi que não era por aí.

Dei para pensar em tudo e determinar a verdadeira importância de cada coisa em minha vida. Passei a duvidar se realmente precisaria delas em outro lugar. Eu disse olhando em meus olhos, pelo espelho retrovisor do carro: agora sei a importância que dei às coisas, mas que do mesmo jeito que criei, podem ser modificadas. É só mudar. Sou eu que atribuo o grau, o nível, a prioridade. Coloquei primeira e senti-me forte, segura. Arranquei cantando pneu!

Em princípio pareceu-me fácil. Sei que minha vida vai mudar. Parti para a lógica. Estarei em outro estado, cidade... e os hábitos e costumes são muito diferentes do meu. O que tenho a fazer é abrir minha mente para o novo. Experimentar o que o mundo tem para oferecer e tirar o que preciso seja onde for. Se eu ficar pensando só em perda, como terei forças para realizar novas conquistas? Foi com essa atitude positiva que eu já me considerava preparada para tudo.

Quando entrei no salão de beleza (que nome!), identifiquei uma das melhores coisas na vida de uma mulher, que eu não poderia mais fazer. É impossível fazer um pé e uma mão como fazem no meu salão! E a depilação então? Onde e a que preço poderei deixar tudo bem aparadinho do jeito que gosto? O desespero bateu quando vi meu cabeleireiro cruzar o salão dançando. O que seria de mim sem ele? Quem vai cortar e fazer luzes? E a cor que levei anos para chegar na cor que sempre sonhei? Merda!

Descobri minha vida confortável, segura. Cheia de pequenas felicidades. Não foi fácil perder. Mas não é impossível. Minha atitude deveria ser outra. Tenho que aprender a desapegar-me das coisas pequenas. Saber distinguir o pequeno do grande é o maior problema. Acho que se tivesse feito isso a vida toda, seria muito mais simples. Talvez eu tivesse menos “coisas” para perder ou deixar para trás.

Só parei para pensar meus dias, em detalhes, agora. É impressionante o grau de automatismo em que vivo. Como tenho hábitos! Sempre o mesmo caminho até os mesmos lugares. E se alguém está dirigindo, é inevitável que eu dê palpites no caminho e faça a outra pessoa ir pelo mesmo que costumo fazer. Sempre e mesmo são palavras confortáveis. Peço sempre a mesma bebida, sempre o mesmo prato. Para minha sorte não há de faltar Coca Zero neste mundo globalizado de meu Deus.

É confortável saber o que vai acontecer, tendo tudo sob controle. Não todo o tempo, senão fica chato. Gosto do imprevisto também, desde que seja agradável, é claro. Quem gosta de ser pego numa situação difícil?

Concluo: a surpresa é legal quando é boa.

Lembrei-me de fatos inusitados, surpresas que tive onde não pude controlar a situação. O desespero de não saber o que irá acontecer no próximo minuto provocava um desalinho na cadeia de emoções e a adrenalina alterava os sentidos. O desconforto, o medo toma conta. O que senti foi medo do desconhecido, do incontrolável que veio. O contrário é o máximo. Quantas vezes eu andei na montanha russa, morrendo de medo de altura? Quando busco ter medo, sei o que vem. Medo controlado. Então não é só a perda de coisas, é também sair do conforto de tudo saber para a adrenalina de tudo descobrir.

Tenho que munir-me do espírito aventureiro da criança que está em mim para sentir prazer na mudança. Enfiar o dedo na tomada para saber que dá choque. Ser humano experimental, ser humano inocente.

Quando criança era como um papel em branco e aceitei, até uma certa idade, o que os pais, a escola, os amiguinhos e a não tão poderosa mídia imprimiu em mim. Como todas as crianças do mundo, fui produto do meio, de onde nasci, do disponível. Estava livre para aprender, tudo era novo, meu universo se ampliava, eu tinha tudo para descobrir. As mudanças eram fantásticas! A novidade me excitava, ficava contando os dias para qualquer coisa que ia mudar: de escola, de casa, tamanho de bicicleta. Por que perdemos esse jeito de encarar a vida? Por que pensamos já saber tudo? Por que tudo passa por nosso filtro?

Não consigo determinar quando eu comecei a questionar, ter opinião, saber o que queria e não queria. Talvez por ter sido cedo demais. Imagino como tendo sido uma massinha de moldar. Daquelas que a professora não nos deixava misturar as cores, pois diziam estragar a massinha. Tentavam podar minha criatividade, só tentavam. Eu era da turma que estragava a massinha. Era do tipo que dava trabalho aos professores, tamanha capacidade de questionamento. Eu não tive fase dos porquês. Meus olhos eram duas interrogações permanentes. Mas essa é uma outra história. Voltando: fui uma massinha de moldar. Manipulada por muitas mãos, inclusive as minhas.

Por um tempo me deixei moldar, depois podia mudar o que moldavam, contorcendo a massa para onde eu via mais sentido. Esse movimento livre criava outros filtros, os meus.

Minha formação (eu estava sendo formada, adquirindo forma) conferiu-me a visão que tenho do mundo, confeccionou meus filtros. Aqueles que hoje me prendem; meus conceitos, preconceitos (porque podemos não entender ou gostar de uma coisa, mas sempre temos uma opinião formada sobre ela), valores, manias, hábitos. E como são tantos os hábitos de alguém que mora sozinha há mais de 30 anos! Aqueles que só nós mesmos conhecemos, os secretos. Como são secretos, não posso contar. Mas se pararmos para pensar, quanta coisa fazemos quando estamos sós e que nem em sonho faríamos acompanhados? Muita coisa.

De repente caiu a ficha e percebi que esses quinze minutos de piração completa tentavam desviar minha atenção do que realmente significava a mudança de estado, de cidade. Qual era meu foco, meu objetivo? Ter meu sonho realizado. Eu estava indo atrás do meu sonho, daquilo que sempre quis e achava que do alto do meus cinquenta e poucos (poucos mesmo) eu não teria mais nenhuma chance de viver. Eu estou feliz! Finalmente encontrei um caminho lindo. Eu quero trilhá-lo, percorrê-lo nos detalhes, momentos, estágios, descobertas. Não vou perder e sim ganhar. Sem dúvida eu sei que só tenho a ganhar. Já estou ganhando.

Mudei. Vim sabendo o que ficou para trás. As coisas que deixei eu não precisarei e nem sentirei falta, tenho certeza. Mas da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos, sobrinhos e outros queridos da família ou que se agregaram a ela, precisarei e sentirei falta. Estarão comigo. Vão me visitar, venho visitar. Estaremos juntos sempre, ligados pelo amor, pelo coração. E os meus poucos amigos? Meus irmãos de escolha irão comigo, estando sem estar, como deve ser com amigos. Sinto-me amada por todos eles e essa é a melhor sensação que qualquer um pode ter. Se todos fossem amados desde sua concepção, o mundo não estava a bagunça que está. O mal do mundo é falta de amor. De amor doado, sem exigência ou necessidade de garantia de retorno. E é esse tipo de amor que sempre sonhei e encontrei.

Finalmente minha bagagem está pronta e parece imensa. Não me refiro a mala, esta é modesta e prática, como deveria. Quanta coisa que está em mim. Temo por pagar meu excesso de peso. Levo tudo o que aprendi nesses anos em que vivi intensamente. Levo o resultado das coisas ruins e boas que foram acrescentadas em meu currículo de vida. E sei que no caminho recolherei souvenirs, impressões do caminho. Levo eu, o que me tornei, o que sou e basta! O resto lavo em mim.

Os meu livros favoritos vieram comigo. Prometi isso a eles.

“Não se descobrem novas terras sem aceitar perder de vista, por um longo tempo, a costa” André Gide

Abraços,

Simone.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mais um ano...

Boa noite!

Não sei se é normal achar desnecessário toda a parafernália que acompanha as festas de final de ano. Tem sido cada vez mais supérfluo, para mim, festejar o já manjado festival de consumo e perda de controle nas comemorações ditas como "tradicionais". Este ano foi diferente: pouco, muito pouco. Só o necessário.

Todo ano é a mesma coisa: muita comida, muita bebida e compras! Os índices de "riqueza" do país aumentam na mesma proporção do consumismo. Shoppings cheios, ruas cheias, numa desesperada corrida para mostrar, expor uma condição financeira próspera.

Longe de mim excluir-me da turba, mas meu comportamento está cada vez mais arredio, quer ser mais comedido, menos "normal". E haja justificativa para explicar meu distanciamento, minha falta de interesse em comemorar um simples ano novo. Somos empurrados a fazer coisas que não queremos, forçados pelo apelo social.

Decisões de ano novo: outra obrigação. Minha decisão: não ter decisões. São uma arapuca, principalmente se divulgadas para aquele pessoal que acha que tem o direito de cobrar, de esfregar na sua cara suas fraquezas e derrotas, pois é mais que certo que a maioria das promessas que fazemos, não conseguimos cumprir.

Que texto azedo, né? Parece que quanto mais velha fico, menos hipocrisia aguento. Como aqueles velhos que convivemos, que falam o que pensam, sem se importarem com as outras pessoas. Com uma diferença: eu não falo, só penso. Nem falar parece-me necessário.

Então é isso, mais um ano! Sem promessas, sem expectativas e muitos poucos planos.

Um abraço,

Simone.