segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Destrinchar


O sonho de ontem pode ter sido o maior e mais complexo que jamais tive. A  sensação ao acordar era de não ter acordado e demorei a perceber o dia vazando pela fresta entre a cortina e a parede. Demorei a querer acordar. Não queria e ainda gostaria de não ter acordado.

Tudo calmo, sereno e delicado. Não era o céu, era aqui mesmo. As mesmas ruas e gente na cidade em um dia normal; porém era diferente de uma forma especial. Não haviam sombras e os rostos estavam iluminados por sorrisos de todo os tipos.

Havia música, músicos embaixo da árvore na praça enorme e todos parando para receber um pouco de amor em cada nota de cada instrumento. E depois cada um seguia seu caminho em paz.

Reconheci várias pessoas de hoje, do começo da minha vida e do meio. Fui abraçada mil vezes, chorei de saudade de todos e ri muito, mas muito mesmo. Era como se eu estivesse voltando de uma viagem de anos e voltado e reencontrado até quem eu nunca mais achei que veria.

O silêncio caiu de repente e as pessoas abriram um corredor em minha direção e pude me ver na outra ponta vindo ao meu encontro. As pessoas acompanhavam meus passos, ansiosas. E eu paralisada esperando-me. Surreal. Eu cheguei em mim e senti meu cheiro como os outros devem sentir. Olhei meus olhos, boca, nos olhamos.

Não consegui emitir nenhum som, mal respirava. E eu respirava ofegante. Passei por mim e continuei a andar. Pensei em deixar-me ir e então decidi que não. Comecei a me seguir e vi tudo. Todas as coisas da minha vida acontecendo uma a uma e eu me via de fora. Eu podia examinar-me e destrinchar o fio da meada de mim.

Criança, adolescente, adulta, mais adulta ainda... Toda a minha vida passou diante de mim e senti tudo de novo. Desde as piores passagens às idílicas e guardadas para sempre. Amei, muito. Fui muito amada. Sofri e fiz sofrer. Deixei quem não devia, fiquei com quem não devia.

Pude ver os caminhos que escolhi, os desvios e barrancos onde me perdi. Vi onde errei e acertei. Onde começou cada comportamento, o produto de cada interação com o mundo e o resultado que vejo em mim agora. Comprendi o que sou e porque sou.

E por isso não quis acordar da minha consciência absoluta.



Um abraço,

Simone


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