segunda-feira, 11 de março de 2013

Corda Bamba

Boa noite!

Eu vi um documentário de um cara que passou a noite toda passando um cabo de aço de 204,3kg entre as Torres Gêmeas, em 1974. A travessia seria ilegal, arriscadíssima, com um mínimo de chance de dar certo.

Philippe Petit, artista francês já famoso e a equipe puxaram manualmente o cabo, que ainda não estava estirado e preso ao amanhecer. Tensão total e frustração abatendo o moral. O cara não desistia e conseguiram! Ao amanhecer o cabo pairava ainda frouxo entre as torres e o povo já notava algo estranho.

De repente aparece um ponto preto, caindo do céu e todo o povo se aflige... Era só um paletó que o cara jogou para sentir o vento. E mais um ponto preto aparece, mas dessa vez em cima da corda, movimentando-se. Era ele.

Philippe ficou mais de duas horas na corda, fazendo todo o tipo de acrobacias. Não queria mais sair, até que a polícia ameaça cortar o cabo. Ele sai algemado, com um sorriso enorme no rosto! Valeu a pena! O risco, a prisão e tudo que viria! A pena foi fazer uma apresentação no Central Park para crianças. Nada mal!

O primeiro passo na corda bamba, esse movimento em direção ao risco começou muito antes pro cara. E não é assim com a vida?

Assim que nascemos nos lançamos no mundo, dependentes, frágeis e empurrados a aprender a sobreviver sozinho? A corda bamba de incertezas, medos e fragilidades diante do mundo voraz, nos faz cair, equilibrar, dar cambalhota pra viver. A preparação que fazemos pra dar o primeiro passo é o que define nossa trajetória na corda/vida.

Como foi nossa infância? Ao que fomos submetidos? Quanto amor recebemos? Que tipo de amor recebemos? Como foram nossos pais, irmãos, escola? Que estímulo intelectual tivemos? Fomos pestes ou anjos? Ajustados ou rebeldes? Tivemos formação religiosa ou não? Passamos fome, necessidade? Fomos mimados? E a nossa adolescência? A parte mais densa de estofo e músculos para suportar o tranco adulto.

Tudo isso conta. E mais coisas contam também, sabemos. Imaginei as cordas estiradas, cada um de nós em uma, cruzando cordas, vendo gente despencar e gente disparar! Um emaranhado intrincado e tridimensional de vidas penduradas, tensas e pulsantes. De cada corda, mais cordas ramificadas abrindo leques em proporção gigantesca.

Quantas vezes se volta ao início porque é a única forma de chegar ao fim? E o fim é dar a volta de um lado e seguir pro outro. O desequilíbrio nos deixa pendurados, agarrados ao aço que corta as mãos. Caímos, estabacamos no chão e começamos de novo, ou não. Alguns balançam as cordas dos outros, outros nos ajudam a voltar.

Continuamos até o corpo imprimir novos ritmos, cada vez mais lentos, cuidadosos e a corda fica mais curta a cada dia. Chega a hora de puxar o banquinho e sentar e esperar cair uma corda que nos leve de volta de onde viemos.

Um abraço,

Simone

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