terça-feira, 2 de julho de 2013

Sombra – Catarse


           (antes de mais nada, escrevi esse texto em janeiro de 2013 - reflete o mood da época)


Eu começaria colando a letra de “Não enche” de Caetano Veloso, mas citar é o bastante (fiquei mais objetiva esses dias).

Eu vi a sombra dominar, vi de perto. Cheirei seu hálito e percebi cada uma das peças daquele puzzle imenso construído desde a infância.

Reluto em descrever o que sentia ao ver cada espasmo de fúria, porque sentir esse tipo de coisa é triste. Infelizmente eu também tenho sombras, como todo mundo. E o duelo de duas sombras densas não pode acabar bem. Não acabou.

Não sei o quanto sublimei os motivos primários. Você pensa: passou um puta tempo e agora está diferente. Nop. E o quanto eu mudei? Se desenhar, são duas linhas diametralmente opostas. É uma puta ingenuidade do cacete achar que as piores coisas sumiram!

Entrar numa zona de sombra é mais ou menos como entrar transe. Você sai de si e visita o outro, nas mais profundas vicissitudes, nas humanidades íntimas e sufocantes. Você vê por dentro, enxerga a alma.

Ter sua intimidade devassada e assim devassar a de outrem, convivendo todos os segundos de um longo tempo respirando o ar viciado por traumas, doenças, contrariedades, ser hóspede indesejável na própria casa, acumular prejuízos, ver agressões, ser acuada e obrigada a viver alheia. E era pra ser bom, veja só.

O lado reverso da felicidade na amargura do café de um dia ao de outro. Vinte e quatro horas pesadas e complicadas para destrinchar diplomaticamente, sem perder o centro, até onde a sombra deixar.

Lá fora cinquenta graus e dentro, menos de zero. Nesse verão glacial, a ponta de um iceberg atingiu-me em cheio e a casa caiu. Ruiu sem deixar nem poeira. Sumiu.

Largou um rastro de covardia e grosseria. De pequenos gestos, insignificantes manifestações de nada. E bons modos, no mínimo? Tsc... Tosco, baixo e vil. E omito meu estado, imagine.

Ao virar a esquina, os olhos aflitos já haviam elencado uma, duas, três vítimas a seguir. As presas molhadas de salivar. Mas vão caindo, uma a uma, quando veem a realidade da alma pobre que se esconde na douta máscara de gestos corretos.

Paro aqui e não haverá mais nada a falar. Chega de existir ou lembrar aquilo que nunca foi e nunca será.

Cabe observar: é impressionante como a escrita fica fértil em alguns estados emocionais. O vômito verbal é a catarse; é espernear até cansar, atribuir os mais podres adjetivos e assim livrar-me de todo o mal, amém.

Abraço,

Simone



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