quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"As obras que se fazem depressa nunca são terminadas com a perfeição devida" - Miguel de Cervantes

Boa noite!

Esta vida está carente de Dom Quixotes; gente que acredita em sonhos que podem tornar-se realidade. Hoje não há Sancho Pança que apoie alguém em uma aventura ou fantasia. Todo mundo quer mais do que uma ilha em troca. Todo mundo quer mais do tempo.

Não há Rocinantes a serem montados e nem lugares onde se possa lutar com moinhos de vento. Os tempos e os ventos são outros. É a pressa, valorizar coisas sem valor, passar por cima, não ir fundo e nem se deter mais do que o mínimo.

Quanto tempo Michelangelo levou para pintar a Capela Cistina e quanto tempo depois ela ainda encanta? Mozart compunha com obsessão, Picasso se reinventava e uma frase de T.S. Eliot levava meses para ser completada.  

O tempo era outro, havia espaço para a reflexão e hoje as decisões são tomadas num ritmo célere, como se não houvesse amanhã.

Um assado não fica tenro sem marinar por longas horas e assar outras tantas, as árvores demoram a crescer e um filho desafia a paciência de quem vive de delivery.

É preciso ser rápido, veloz, diligente e chegar na hora ou antes. A paisagem sublimada chora de saudade dos viajantes pedestres, despreza o trem bala e odeia o avião. E o que dizer de quem viaja e bate ponto em horas numa cidade, colocando em seu álbum o registro de sua passagem?

Outro dia perguntei a um conhecido que se gabava de ter conhecido Paris e perguntei sua opinião sobre o Louvre. Ele não foi. Mas comprou muitos perfumes na galeria em frente (ele não lembrava o nome). Não comeu um éclair sequer.

A pressa é inimiga da perfeição, mas quem precisa da perfeição se pode ter uma reprodução da Gioconda no lavabo (um banheiro expresso)?

Haja paciência com quem a não possui.

Um abraço demorado, sem pressa.

Simone.

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