Bom dia!
Meus dias e noites são solitários, há anos. E nessa frase de Charles Baudelaire encontrei a tradução do que faço, tenho feito, sem dar conta nem a mim e a ninguém.
Faz tempo que deixei de pensar-me só e ser tão "povoada", repleta e completa de um tempo longo e curto. Ocupo os espaços saboreando as rotinas em um ritmo mais calmo; lavar um copo como se nunca mais fosse usá-lo, cuidando para não quebrá-lo como já fiz com outros na pressa.
Fazer um prato somente para mim deixou de ser um suplício e nego-me a entregar-me ao lixo dos congelados e industrializados com sua rapidez insípida e facilidade sem gosto. Gosto de demorar para descascar, picar, temperar e assar. Dar o tempo a cada ingrediente, ver corar, crescer e borbulhar.
Tenho livros no quarto, no escritório, no banheiro, na sala e na mala. As palavras me acompanham e tenho sempre uma dezena de personagens a contar-me histórias. Suas vidas enchem minha casa em festas, viagens e nascimentos, amores e mortes.
Minhas relações são mais densas e sei, como Baudelaire, isolar-me na multidão. Ver de cima, deslocar-me como deve-se diante de uma tela de Monet. Entender Monet só a pelo menos há dois metros.É assim que vejo o movimento alheio, inserida e participante, há dois metros. Assim tenho a visão do em torno sem misturar-me a ponto de deixar de ser.
Estou livre! Não, nunca mais tive a sensação de precisar de algo ou alguém para ser. Sou. Cada vez mais sou!
Meu amor é terno, benevolente, paciente e minha submissão é traje que porto sábia. Minha compaixão é verdadeira, meu sorriso não é vão e minha felicidade existe. Não sou triste, encontro um motivo melhor, razões para rir e não preciso esquecer dos sofrimentos para não ter dor. Tomei uma anestesia que não finda, sou eterna, terna comigo, cuido do meu abrigo e meu corpo levita, saudável.
E tenho covinhas! Duas! Não estou só, nunca estive.
Um abraço povoado, repleto.
Simone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário